Adrenoguei: a última tineira*

Uma meiota. Depois uma inteira. Depois uma inteira. Depois uma inteira, uma fininha e três gotinhas. RJ. Centro. Sexta-feira. Uma inteira, uma meiota, uma carreira, baforada, seis gotinhas. SP. Centro. Sábado e domingo. Duas inteiras, baforada, três carreiras, baforada, seis gotinhas. RJ, SP E BSB. Sexta, sábado, domingo, segunda. Rivotril, fluoxetina, baforada, mais Rivotril, mais fluoxetina, zolpidem, Rivotril, baforada, ritalina, fluoxetina, frontal, fluoxetina, Rivotril, zolpidem, baforada, fluoxetina, ritalina, frontal. SP, RJ e Salvador. De sexta até a outra sexta. Floripa, Recife, Fortaleza. Não tem quarta, não tem terça. E também: sildenafila, baforada, azitromicina, proctophar, sildenafila, ibuprofeno, tadalafila, baforada, azitromicina, omeprazol, sildenafila, ibuprofeno, proctophar, baforada, benzetacil, xantínon, sildenafila, floratil, doxiciclina, baforada, emosec, benzetacil, rivotril. RJ e BH. De abril a abril. Dia de semana não mais há. Adrenalina, mais adrenalina, massagem cardíaca. Perdemos a gay às uma. Assim começa o conto de uma gay amiga nossa. Inhaúma. Vá com a Deusa, Adrenoguei. Mais uma gay virando nenhuma.

RJ, 31.05.24

[Esse conto, em sua versão completa, é parte do meu próximo livro: ‘Coloridos no Inferno’]

*Tineira: na linguagem do sexo químico ou com aditivos, a ‘gay tineira’ é a usuária contumaz de ‘tina’, crystal ou metanfetamina. É frequente vermos grupos de gays, geralmente também surubeiras, que só se reúnem com outras ‘tineiras’ para ‘curtir’, que é basicamente usar a tina e transar ininterruptamente. Constantemente acompanhados de música eletrônica e filme pornô, ambos em um looping eterno, como o ciclo do uso da droga. Infelizmente, também é frequente vermos a morte desse usuário, em especial decorrente do uso excessivo da metanfetamina, substância dezenas de vezes com efeito mais forte que a cocaína e de potência aditiva aproximada à do crack.